Fenômenos severos confirmados no estado
O estado do Paraná foi atingido por ao menos três tornados durante as fortes tempestades da última sexta-feira. A confirmação veio nesta segunda-feira (10) por meio do Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná), que analisou dados de radar, imagens de vídeos, sobrevoos e vistorias em solo para identificar os fenômenos.
As cidades mais afetadas foram Rio Bonito do Iguaçu — onde 90% do território urbano sofreu algum tipo de dano —, Turvo e Guarapuava. Os tornados registrados foram classificados como F2 e F3 na escala Fujita, segundo o meteorologista do Simepar, Lizandro Jacobsen. A investigação ainda está em andamento para avaliar se outras ocorrências também foram tornados.
Ambiente propício a tempestades severas
As condições meteorológicas da sexta-feira criaram um cenário extremamente favorável à formação de tempestades intensas. Segundo especialistas, o aumento significativo do calor e da umidade, aliado à intensificação e mudança na direção dos ventos em diferentes níveis da atmosfera, contribuíram diretamente para o surgimento dos tornados.
Alertas foram emitidos com antecedência
Ao contrário do que muitos acreditam, os tornados que atingiram o Paraná não aconteceram sem qualquer aviso. A MetSul Meteorologia, por exemplo, já havia emitido um alerta na quinta-feira, véspera dos eventos, com o título: “Sistema linear de tempestades trará risco de tornados e microexplosões”. No texto, a empresa chamava atenção para o risco de tornados de curta duração, mas com potencial de causar danos severos, especialmente no oeste de Santa Catarina e no Paraná.
No dia do desastre, horas antes dos tornados se formarem, a MetSul reiterou o alerta, reforçando a possibilidade de ocorrência. O grupo PREVOTS (Previsão de Tempo Severo), formado por meteorologistas especializados, também publicou um comunicado sobre o “elevado risco de tornados” e alertava para a “possível ocorrência de um ou dois tornados significativos”. A previsão se confirmou com a ocorrência de um tornado EF-4 em Rio Bonito do Iguaçu e outro EF-3 entre Turvo e Guarapuava.
A previsão meteorológica sozinha não basta
Embora a previsão de tempo no Brasil tenha evoluído e seja, sim, capaz de detectar cenários propícios à formação de tornados, ainda há limitações na forma como esses alertas são absorvidos e aplicados na prática. O meteorologista Luiz Fernando Nachtigall argumenta que apenas prever não é suficiente para impedir tragédias.
Ele compara a situação com o combate a incêndios: de nada adianta um Corpo de Bombeiros bem treinado se os prédios não têm saídas de emergência, extintores ou estrutura adequada. Como exemplo, cita Bangladesh, onde incêndios devastadores são frequentes em regiões densamente povoadas, com construções precárias e pouca fiscalização das normas de segurança.
O mesmo se aplica aos tornados. Sem um sistema de prevenção eficiente — que vá além da previsão meteorológica e envolva protocolos de resposta rápida, estruturas adequadas e planos de evacuação — tragédias continuarão a ocorrer.
Como funcionam os alertas em países como os EUA
Nos Estados Unidos, os alertas para tornados seguem uma lógica dividida em dois momentos: o “tornado watch” (vigilância) e o “tornado warning” (alerta). O primeiro é emitido quando as condições atmosféricas indicam a possibilidade de formação de tornados, abrangendo áreas mais amplas. É um aviso para que a população fique atenta e preparada.
Já o segundo, o “tornado warning”, é disparado quando um tornado foi detectado em solo ou pelo radar, e exige ação imediata: as pessoas na área afetada devem buscar abrigo imediatamente. Em resumo, “watch” significa “fique atento” e “warning” quer dizer “proteja-se agora”.
Paraná em alerta
O episódio recente no Paraná reforça a necessidade de modernizar e integrar os sistemas de alerta e resposta a desastres climáticos no Brasil. Ainda que a previsão meteorológica tenha antecipado o risco, a tragédia só poderá ser evitada no futuro com políticas públicas de prevenção, infraestrutura segura e maior conscientização da população diante desses fenômenos extremos.