Ritmo natural nos Kakadus
Os kakadus, papagaios nativos da Austrália e do sudeste asiático, são conhecidos não apenas por sua inteligência, mas também por um talento inusitado: a dança. Vídeos compartilhados em plataformas como YouTube e TikTok já mostravam essas aves balançando ao som de músicas. Agora, uma pesquisa australiana foi além e documentou a diversidade surpreendente dos movimentos desses animais.
Estudo detalhado entre redes sociais e zoológico
A pesquisadora Natasha Lubke, da Charles Sturt University, analisou 45 vídeos de kakadus dançando e depois conduziu experimentos com seis aves no Zoológico de Wagga Wagga, tocando tanto músicas quanto podcasts sem trilha sonora. O estudo revelou que a dança não é exclusiva das espécies mais comuns em cativeiro nem daqueles animais que foram incentivados por humanos — trata-se de um comportamento mais amplo e espontâneo.
Mais do que um ritual de acasalamento
Embora muitos rituais de acasalamento entre aves sejam chamados de “danças”, o que diferencia os kakadus é a capacidade de se moverem em sincronia com ritmos externos. Um exemplo notável são os machos da espécie palm cockatoo, que chegam a fabricar pequenos bastões para criar batidas rítmicas, acompanhando-as com canto e dança.
Movimentos únicos e personalizados
Pesquisas anteriores haviam identificado 16 movimentos distintos em um kakadu chamado Snowball. O novo estudo ampliou esse número para 30, incluindo 17 movimentos inéditos. Alguns movimentos antigos, como o curioso “headbang com pata levantada”, não foram observados — talvez tenham saído de moda. Ainda assim, o movimento de “headbang” simples continuou popular, mesmo sem trilha sonora. Além disso, alguns kakadus combinaram passos de maneira única, criando coreografias individuais e exclusivas.
Cada espécie com seu estilo
Os cientistas também observaram que certas espécies preferem determinados movimentos, mas as semelhanças coreográficas nem sempre ocorreram entre espécies mais próximas geneticamente. Curiosamente, a dança não era motivada pela presença de possíveis parceiros: muitas das performances ocorreram sem espectadores — nem aves, nem humanos — e até por fêmeas, o que indica um comportamento que vai além da reprodução.
Dança como expressão emocional
As semelhanças entre a dança dos kakadus e a dança humana despertaram interesse nos pesquisadores. A parte do cérebro responsável por sincronizar movimentos com ritmo também é a que regula a aprendizagem vocal. Embora a imitação de sons esteja presente em diversas espécies, apenas os humanos e os papagaios, até onde se sabe, conseguem responder ritmicamente à música.
Música como enriquecimento ambiental
Apesar das aves observadas não terem dançado mais ao som de Avicii do que ao ouvir um podcast, o professor Rafael Freire, coautor do estudo, destaca que os dados apontam para uma inteligência desenvolvida. “As semelhanças com a dança humana dificultam negar os processos cognitivos e emocionais nos papagaios. Tocar música para eles pode melhorar seu bem-estar”, afirmou.
Expressão de personalidade no movimento
Os resultados indicam que a dança nos kakadus não é mera imitação, mas uma expressão de emoções e capacidades cognitivas individuais. Cada ave parecia desenvolver sua própria “playlist” de movimentos favoritos, e algumas chegaram a criar coreografias originais ao combinar diferentes passos de forma criativa. A questão que permanece é se esses movimentos também refletem prazer e alegria — uma resposta que novas pesquisas deverão buscar.
Conclusão: além da diversão, um sinal de inteligência
O estudo revela não apenas um comportamento curioso e encantador, mas reforça a necessidade de estimular cognitivamente os kakadus mantidos em cativeiro. A dança, com ou sem música, pode ser uma ferramenta valiosa de enriquecimento ambiental e uma janela para a mente complexa dessas aves fascinantes.