A China vai impor direitos anti-dumping sobre as importações de carne suína da União Europeia durante cinco anos, mas a taxas inferiores às taxas temporárias em vigor desde setembro, anunciou Pequim na terça-feira.
As duas potências económicas estão envolvidas numa disputa comercial alimentada pelo que muitos países europeus consideram uma relação económica desequilibrada com a China.
As acusações foram introduzidas depois que a China lançou uma investigação no ano passado que descobriu que as importações europeias de carne suína “foram objeto de dumping, resultando em danos significativos à indústria nacional”, disse o Ministério do Comércio em comunicado na terça-feira.
As tarifas variarão entre 4,9 e 19,8 por cento – em comparação com taxas temporárias de 15,6 a 62,4 por cento – e serão aplicadas a partir de 17 de dezembro, afirmou.
“Atualmente, a indústria nacional está em dificuldades e há fortes apelos por proteção”, disse um porta-voz do Ministério do Comércio.
Acrescentaram que as conclusões da investigação foram “objetivas, justas e imparciais”.
O ministro da Agricultura de Espanha – o maior produtor europeu de carne suína e derivados – disse que os exportadores espanhóis tiveram de pagar uma tarifa média de 9,8 por cento, abaixo da média geral de 19 por cento.
Portanto, as medidas foram “aceitáveis” para Espanha e o resultado “minimizado”, disse Luis Planas aos jornalistas em Madrid.
A China, o maior consumidor mundial de carne suína, importou 4,3 bilhões de yuans (US$ 600 milhões) em produtos suínos somente da Espanha no ano passado, de acordo com dados oficiais da Alfândega da China.
Entretanto, de acordo com a associação industrial Inaporc, a França exportou 115.000 toneladas de carne suína para a China em 2024.
A indústria suína francesa saudou a decisão de Pequim, com Inaporc descrevendo-a como um “alívio” para os produtores nacionais.
A Inaporc afirma que as empresas francesas estavam anteriormente sujeitas a uma taxa provisória de até 62,4 por cento sobre alguns produtos e uma média de 20 por cento sobre outros.
Ao abrigo das novas medidas, será cobrada uma taxa de 9,8% ao Groupe Bigard, um grande produtor francês de carne de porco, enquanto à coroa dinamarquesa será cobrada uma taxa de 18,6%.
– “Cartão de negociação” –
A actual disputa comercial eclodiu no Verão passado, quando a UE decidiu impor tarifas elevadas aos veículos eléctricos chineses, argumentando que os subsídios de Pequim prejudicavam injustamente os concorrentes europeus.
Pequim negou as acusações e anunciou o que é amplamente visto como uma investigação retaliatória sobre carne suína, conhaque e laticínios importados da Europa.
Giuseppe Aloisio, diretor-geral da associação espanhola da indústria da carne, Anice, disse à AFP que a medida era “injusta” e “pune uma indústria exemplar sem motivo”.
“É inaceitável usar o nosso setor como moeda de troca numa disputa comercial sobre veículos elétricos que não tem absolutamente nada a ver connosco”, afirmou Aloísio.
Os produtores europeus criticaram a imposição de tarifas temporárias sobre a carne suína em setembro, negando as alegações de dumping.
Argumentaram que os consumidores chineses pagam mais do que os europeus por produtos que estes ignoram frequentemente, como pés e orelhas de porco.
Em 2024, a UE registou um défice comercial com a China superior a 350 mil milhões de dólares.
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse este mês que a Europa consideraria tomar medidas duras contra a China, incluindo tarifas, se os desequilíbrios comerciais não fossem resolvidos.
Além das fricções comerciais, a China e a UE estão em desacordo sobre questões como a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022.
A UE insistiu que a China pressionasse Moscovo para acabar com a guerra, mas Pequim não deu sinais de aderir.
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